sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Era uma vez... (03)

Perdemos nossos astros


Senhora?!...

Perdemos a Lua. Você a viu? Se viu, lembrou, não lembrou?

Prestenção: a Lua não esquece.

Lembra-se de quantos crepúsculos já perdemos? Foram tantos... de cores variadas... em dias absurdos... belos... enigmáticos... inesquecíveis...

Crepúsculos portenhos – Ah, este azul!

Sim, perdemos um azul-portenho abrindo as portas para noites calientes – azul guardião!

Sim, perdemos alaranjados-caribenhos guardando a bola estupenda de luz e fogo do Sol. Não vimos sequer suas carícias sobre os contornos verdes de florestas-amantes.

Perdemos!

Se nossos pés tocaram areias – foram em mares diferentes. Distantes. Separados pela imensidão.

O Atlântico que me separa de ti é do tamanho exato do Pacífico que não te deixa ver.

Essa distância ainda nos matará. Os dois.

Enquanto você partia, a noite foi esfriando... esfriando... gradualmente. Quanto mais você descia a Tamoios, mais frio ficava. E a Lua, meio triste, foi dormir. Ficou um vazio estranho por aqui... Sabe aquela sensação de amargo na boca? – Voltou! Palavras que não disse. Direi algum dia?

Ficou uma preocupação em mim: teu nervoso. Tua voz embargada. Não estavas bem. Aquele não é jeito de arrumar malas – a gente acaba esquecendo as meias. Aquele não é jeito de pegar estrada – serra, então, nem pensar. Aquele não é jeito de me deixar aqui sozinho.

Quando dei por mim, a noite havia chegado por inteiro... já ia longe – paquerando a madrugada... Não teve jeito, não. Fui forçado a admitir: estava profundamente triste.
Havia uma vontade enorme de beber. Ah, beber! Já descobri que isso, além de não resolver, ainda me põe curvado e com o ego diluído frente à solidão. Aumenta consideravelmente a angústia. Não presta. Descobri que beber, nessas horas, não presta!

Não bebi.

Fui irônico contigo. Não deveria. Olhei apenas pro meu umbigo naquela hora. Ironia é via de mão-dupla... vinculação sacana de enviar uma mensagem – uma perigosa contramão!

Perdoa.

(É que quando se quer dizer e não se diz, o “grito fica parado no ar” e, por não ser sólido, não se desmancha; e por não ser líquido, beber, também não dá. É uma rolha. Entope.)

Você, por seu lado, também não poderia atender ao apelo do meu grito. Ele era puro absurdo em sua conotação de desejo e inconseqüência:

– FICA COMIGO!

Recorro à música, como sempre:

“...
...”

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