domingo, 29 de janeiro de 2012

Bilhete

Moenda

(Tim-Tim)


Ora! Permita: –

Eu também atravessei neblinas...
Também naveguei à deriva...
E se fui tolo (perdoa!)
É que a presteza ao leme
Não permitia devaneios...

(Perdoa!)

Mas, veja bem:
Dessa borra amarga, não engulo mais...

Não trago uma única gota sequer dos goles a que fui forçado...
Destilei-os, todos!, na moenda (traiçoeira e solitária) das madrugadas...

O que lhe trouxe?

...

(projeto frágil moldado em argila... a exigir calor).

E... para um brinde,
apenas o licor-de-vida, destilado no Carvalho desses anos todos

– de generosa maturação.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Bilhete

A chuva de Sampa

Acordei com a chuva tamborilando na janela... Chuva maneira: meio baiana, meio carioca... Gostosa!

A música que ela cantava, tinha o elemento suave da preguiça, do fique aí:

saia, não!... vá, não!...

Continuo querendo.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Bilhete

Decisão

Vou rasgar todos os papéis que cobrem tua encenação... Vou desmascarar esta farsa que não convence mais ninguém...

Vou lamber tuas axilas... Teu umbigo... Te fazer cosquinha.

Pode doar seus gatos.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O presente de Sandra Brazil – minha amiga.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Do Blog  http://desafoparacleis.blogspot.com  -A seção "Pensando nos amigos". Hoje é dia de Xico Santos

Hoje acordei pensando em Xico Santos, o editor da resistente Altana.
Estivéssemos em Paris, Altana se chamaria La Resistance, tamanha é a coragem desse editor, desse homem, que enfrenta as agruras das faturas das gráficas, das empresas de papel, das cobranças, dos cobradores, do pagamento da produção, e que nem sempre consegue fazer das tripas coração.

Mas, Xico, não se apoquente, assim é a vida. Nós, mulheres, mais calejadas e mais aparelhadas para absorver e digerir os impactos das agruras da vida, entendemos o que você sente. Se não podemos te ajudar, podemos estar a seu lado, caminhando nesse deserto seco, que às vezes, surpreendentemente, quando menos se espera, numa espécie de milagre, se transforma em flores. Milagres.

Na imagem a escritora francesa Marguerite Duras, membro da Resistência Francesa na Segunda Guerra Mundial.

A Altana resiste. La Resistance. Imagino Marguerite Duras, cigarro numa das mãos, conversando com Xico Santos num café em algum banlieu, e mirabolando planos para levar adiante La Resistance, ou seja, Altana. Marguerite não deixaria Altana desaparecer do mapa, assim como resistiu com os franceses, corpinho magro e boina, distribuindo jornais clandestinos e participando de reuniões clandestinas para mudar o mundo. Assim era Marguerite, pois Marguerite não deixaria, jamais dans la vie, a Altana se esvair...

Pois foi Xico Santos, junto com minha amiga Gizele Santos, os primeiros a me incentivar a mostrar meus textos, isso não esqueço. E foi esse homem, editor da resistente Altana, quem ligou para Lizete Mercadante, editora da revista eletrônica de literatura O caixote, e enviou os textos a ela sem que eu soubesse. Pá! Eles saíram publicados no número 19. Eu engoli sequinho... Gizele passou a bola bonitinho para Xico que fez o gol de placa...

Não fossem os dois, não sei se haveria este blogue.
Pois Xico, o resistente da Altana escreve, lindamente, mas tem vergonha de mostrar, coisas de Xico Santos pirata. Um dia, hei de ver os textos dele publicados em papel, não só aqui na telinha, porque texto bão assim tem que estar em tinta sobre papel, se possível pólen... (Coisa de editora...)

Xico já foi fotógrafo também e cinegrafista premiado, mas esconde debaixo de uma humildade irritante... E seus textos trazem essa sensibilidade de fotógrafo: ele clica o momento, aí traz para o papel o mar de sentimento que só um pisciano poderia... São lindos os textos dele. Tive acesso a um texto sobre sua mãe. Meu coração embargou, não vou esquecer.

Assim como não vou esquecer de Xico e seu jeito de passar a mão na testa quando está envergonhado, ou quando está contente, diz sorrindo: "Tal coisa é assim, caaara!", como se fosse um menino levado.

Caros leitores, este é Xico Santos, que leva adiante A resistente, a Altana, Marguerite Duras ao lado, porque de onde estiver, ela protege os resistentes todos.

Conheçam os textos de Xico Santos. Garanto que vocês não vão querer mais deixar de ler seus textos no blogue: versoeprosa.wordpress.com

Conheçam também a série Folhetim de Ausências, http://www.folhetimdeausencias.blogspot.com/

é imperdível... Este é meu amigo Xico Santos, que espero ver mais vezes, sorrir com ele mais vezes, resistir com ele e Marguerite e ver seus textos cheirando a tinta, breve, se possível.

Xico Santos, que agora vive para Galahad, João e Morgana...

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Bilhete

Equador


Fui procurá-la, ontem, durante o eclipse... Abusei da eternidade da noite...

O dia clareou, e nada de você!

Foi apenas por saudade que fui até lá. Saudade com gosto de tarde chuvosa... Daquelas, sem os bolinhos!

Fui até lá... Cadê você?!

Percorri a linha de um extremo à outra curva. Nada!

Pulei para o outro lado, voltei... Nada! Você não estava.

E a saudade aumentando...

Deitei meu corpo cansado sobre a linha, metade pra cada lado: “minha mãe mandou bater nesta daqui...”.

Cadê você?!

Escorreguei no limbo da esfera, caí do outro lado.

Meio desajeitado, desço pelo ralo, girando ao contrário...

Ajuda! Sou destro. 

Era uma vez... (05)

Veneno


"Eu bem quisera, quando chego a ver-te,
vendo este infame amor, poder negá-lo;
porém logo a razão justa me adverte
de que só há remédio em publicá-lo:
porque do grão delito de querer-te
 só é pena bastante o confessá-lo”.

                        Juana Inés de la Cruz


Oh, minha senhora!

Teu último imeio chegou assim como uma flecha – certeira; reta; imponderável e absoluta. Trazia em sua ponta assassina não apenas veneno... trazia mais:

–  "Meu querido, estamos num beco sem saída. E eu que pensei que eles não existissem!".

Penso senhora que não se deve (jamais!) encurralar um gato – ou qualquer outro animal –, num beco sem saída. Ele vai atacar, incontinente, quem quer que o faça. Instinto.

Oh, minha senhora! (Não consigo mais chamá-la de "meu amor".) A senhora foge, esconde-se, tem medo... (Eu compreendo. Compreendo?) Agindo assim, senhora, vais murchar. É inevitável. Vais murchar!

Dia desses, senhora, eu a vi. Minto, não cheguei a vê-la, cheguei apenas a pressenti-la. Me observavas de uma certa janela. Senti o calor dos teus olhos. Quando tentei buscar, com os meus, aquela fonte maravilhosa de emanação, a senhora os recolheu, rápida como uma ave de rapina. Mas quer saber? Aquele facho de luz colorido e quente ficou, por um breve tempo, denunciando teu ato.

Enquanto murchas, senhora, permita-me que te lembre: foi há pouco que aconteceu (pra mim, parece que foi agora), tão denso e suave; tão leve e limpo; tão forte e maleável, que chego a ter a grata sensação de poder tocá-lo. Sabe do que falo, senhora? Falo daquele momento (pra mim foi agora), lembras? Da noite em que nos beijamos como se não houvesse mais tempo pra nós, como se um de nós fosse morrer no momento seguinte, lembras?

Então...

Aquilo foi mágico, a senhora sabe, a senhora se lembra: a senhora virou menina outra vez, ali, naquele momento, em meus braços. Não se esquece um momento daqueles, pelo simples fato de ser singular, de fulgor radiante e majestoso!

Naquela noite, tinhas um compromisso de mulher casada, lembras? Chegastes ao local de forma radiante – era a menina que insistia em participar da festa! –, e tua beleza e felicidade foram denunciadas por uma amiga, gerando ciúme e desconfiança, lembras?

Então, senhora...  Lembra-se? Então, por que preferes deixar que murche?

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Bilhete

Te gosto assim: pura-carne-exposta.

Quando, em… quase-morte… me pedes para untar tuas feridas… te resgatar das sombras. Mesmo quando sabes que, em mim, a luz é opaca e meus gestos (quase sempre!) em forma grotesca de garrote: vil e ordinário. Pura-brutalidade-genética!

Te gosto assim: pura-carne.

Quando, o... aquilo em mim... – embora espectro! –, te eleva à condição de voo. Porque... – em dor e lamento –, a energia que te conserva em vida, nos meus gestos é que encontra sua unidade vital!

Te gosto assim: pura.

Quando, ao final... te deixo em desordem sob os escombros da minha escuridão, desprezo o pouco de dignidade que me habita...  porque sei que volto (sempre!) para reacender a chama dessa tua loucura... e, não há paz em saber que te conservo, assim... – não como em vinagre – mas, em sangue, suor e lágrimas.

Te gosto assim:...

Era uma vez... (04)

Vestia azul, mas estava nua


Senhora,

O tempo que insiste em existir nas entranhas de três dias faz tanta diferença na vida de um homem, que ele pode, de repente, pensar que hoje não é hoje, e que porra nenhuma de ontem foi qualquer coisa!

Então ele retrocede...

- Não ouvi. Queira repetir, por favor, senhora.

- "É, não vai haver. Não haverá, nunca... Jamais!"

- Senhora, nunca?

- "Sim, nunca!"

- Nunca, é um lugar longe pra caralho, senhora. Ou, seria ali na virada da esquina?

- "Jamais haverá noites de cinema; de teatro; de...".

- Porra, peraí! E noites de lua cheia?

- "Não, nem noites de Lua cheia, jamais! Nem mesmo uma única noite de Natal, Reveion, Páscoa, Terças de Carnaval...".

- Espera, espera... E um sabadozinho de aleluia, unzinho só?

- "Sextas santas (Coração ateu!). Feriados prolongados, então, nem pensar".

- Tomara, chova tanto sobre a fazenda e sobre a casa de praia, que se perca, definitivamente, por todos os séculos dos séculos, a vontade de ir... de estar... de...

- "Aniversários em geral (Você não nasceu, viu? Você é um filho de uma puta saído de um tubo de ensaio!). Nem o seu. E o meu, então... Ah, nem pensar!".

- Almoços em motéis caríssimos, revestidos de espelhos e de falsa assepsia, sim, poderão existir. Todos quantos minha fome desejar. Todos os dias do nosso falso tempo. Não é, senhora?
...

Senti uma vontade louca de deixar lá, jogado no chão do quarto, aquele seu finíssimo vestido azul (quanto custou aquilo, meu Deus?). E carregá-la nua pela marginal da estupidez, por entre carros importados e caminhoneiros de pau duro.

De repente, um raio seco cortou o ar e eu revi minha figura assustada, refletida naquele mundo de espelhos absurdos. E uma chuva sem precedentes desceu sobre a marginal da burrice. Chuva que salvava, pelo menos naquele momento, o finíssimo vestido azul.

Chuva!

Tormenta que horrorizou meu espanto e desentalou, de vez, sua beleza nua das minhas retinas. Suas tatuagens saíram voando pelo quarto em mil reflexos como se, por um momento, por um único e breve momento, o mundo tivesse virado um grande festival!