terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Era uma vez...


O desenho dela

Oh, minha senhora,
eu vos amo tanto
que até por vosso marido
já sinto um certo quebranto.

(Mário Quintana)




Dia desses, um amigo mineiro – tão bão ter esse amigo; tão bão ele ser mineiro. Então, dia desses, ele te viu: te apontei na rua.

Silencioso “(como convém a um bom sujeito mineiro)”, ficou por longo tempo coçando distraidamente a barba. Quando eu mesmo já havia diluído tua passagem, ele comentou entre os dentes, muito de mansinho: “Bem desenhada, ela”.

Aquele comentário me fez lembrar a primeira vez que te vi. Do teu contorno de deusa inundando as retinas dos meus olhos. Desenhando vontades; mapeando curvas de desejos; descortinando canyons de êxtase.

(Eu chegava de longe, lembras? Havia atravessado desertos – uma travessia desnaturada, sobrevivendo do ato absurdo de chupar recordações mortas – estava vazio… opaco… seco mesmo. Lembras? Lembras que chegastes a comentar sobre a fábula do filme O paciente inglês: “Às vezes a gente atravessa todo o deserto atrás do nosso grande amor, e o reencontramos morto”).

Teus olhos – tâmaras! –, foram me alimentando lentamente com o néctar de outros tempos. Viestes com cuidados ancestrais e eu não tive tempo. Me debati, claro. Tentei rodeios; inventei razões; falei de desacertos; cantarolei músicas inaudíveis; amarelei gestos…

Tentei conter. Não consegui. A inundação foi inevitável!

Agora, o que realmente faz do outro lado um simples vazio idiota, é essa tua ausência de mulher casada.

3 comentários:

Eduardo Maretti disse...

Eu nem sabia que você tinha criado um blog! Que bacana, seja bem-vindo à blogosfera, Xico Santos!

Muito bom o texto postado.

abraços

Sandra Brazil disse...

Belo é o desenho do seu texto, Xiqueto...
beijos,
San

luzete disse...

que boa chegança, xico.
deussejalouvado, e também digo o amém: amém!

Postar um comentário