terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Era uma vez... (7)



“Machado de Assis, esse sim, botou sandálias de Lampião em sua Emma;
 pegadas de sola quadrada pra cabra não saber se Capitu está indo ou voltando.”
                                                                                                                                            
                                                                                                                                      Andréa Del Fuego


Senhora, Capitu, traiu?

...? ( ! ).

Anna, a Karenina de Tolstoi, traiu. Emma, a Madame Bovary de Flaubert, também. Luísa, sabemos, caía de amores pelo Primo Basílio. Débora, descortinada por Ivy Knijinik em Débora fala reservadamente com todos, também traiu, em tempo real e virtual!

Seria correto, senhora, de fato, chamarmos de traição, a atitude de uma mulher apaixonada na busca desnaturada por um pouco de afeto... por carinho e atenção... pelo novo e (quem dera!), possivelmente, derradeiro e verdadeiro amor, seria?

Essas interrogações me fazem lembrar de Sarah. Oh, senhora, ela era casada com Henry Miles – muito bem casada, aliás! – mas, Graham Greene a denunciou em Fim de Caso: Sarah era, na verdade, perdidamente apaixonada por Maurice Bendrix, a quem amou até a hora da morte. Veja só, senhora!

Senhora, o que teria Robert Kincaid, o solitário fotógrafo em As Pontes de Madison, encontrado em Francesca Johnson, naquela tarde quente, numa bifurcação do destino, nos embrenhos de Iowa; apenas uma caipira idiota e só? Será?!

E Francesca, de onde teria extraído a percepção da diferença dos ruídos... dos cheiros e sabores daquela tarde, senão das entranhas da paixão? Aquilo pode ser chamado de traição, senhora, pode?

Elas.

E a senhora?

Oh, minha amada, uma sombra negra e assustadora acaba de pairar sobre nós: o ciúme. Uma sombra que chegou desmanchando os laços da minha tranqüilidade – deu um nó nas pontas deste resto de sonho.

Não sei ainda.

Senhora, esta sombra, pousou suas asas negras sobre minhas têmporas... incendiando meu cérebro, aquecendo idéias absurdas e maldosas. Aconteceu durante nosso último encontro: alguém ligou para seu celular, lembra? Não era seu marido, senhora, não era! Esta afirmação é respaldada em dúvidas – o que a transforma num tormento... numa tortura que vem em forma de formigamento... me toma até a medula. Me fere como uma tortura. Um sofrimento banal, ordinário.

O ciúme, a senhora sabe, é um elevador que "passa lotado" pelos andares do bom senso e da compreensão, indo parar direto na cobertura maldosa do julgamento e da insensatez. Julguei-a, senhora, naquele momento. E, agora, que a solidão e a tristeza invadem meu coração apaixonado, me ponho a lembrar dessas outras mulheres, dessas outras dúvidas, dessas outras "quase-certezas".

Não vou falar dos homens, não. Com ciúmes, agora, basta eu. Ou, simplesmente, nós e os nossos nós.

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